![]() Capa do livro “Conversas Com Woody Allen”, de Eric Lax
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Rotular Allen como o “único autor remanescente no cinema americano” seria uma saída fácil demais para explicar o porque ele é singular. O jornalista Eric Lax, biógrafo do cineasta, escreveu um livro só para isso. “Conversas com Woody Allen” (Cosac & Naify) reúne entrevistas feitas por Lax com o diretor ao longo de 36 anos. O escritor as desmembrou para depois reorganizá-las cronolgicamente dentro de capítulos temáticos que percorrem todo o processo criativo do biografado.
Lax esmiuça com Allen desde a gênese das idéias até a elaboração da trilha sonora dos filmes, sem esquecer de dar-lhe voz para fazer uma avaliação de sua própria carreira. Talvez nesse ponto Lax peque pela reverência excessiva, a falta de distanciamento crítico do personagem, algo em que não está sozinho nesse setor do mundo literário.
Cita-se indistintamente filmes como “Manhattan”, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, “Interiores”, “Setembro” e “Scoop” sem estabelecer um diferencial entre eles que não seja puramente formal. Allen, sempre muito autocrítico, como seus personagens, ajuda nesse sentido. Mas com a austera convicção de que ou “era jovem demais” ou “induziram-lhe ao erro”.
Pode-se não gostar de Woody Allen ou tomar os seus melhores filmes por obras superestimadas, mas não se pode negar que sua trajetória revela uma evolução gradual e sem paralelo possível. De cineasta intuitivo que costurava gags visuais em comédias como “Bananas”, “O Dorminhoco” e “Tudo Que Você Queria Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar” até diretor experiente e sofisticado de dramas como “Crimes e Pecados” e “Ponto Final”.
Mais do que elucidar e organizar o método de Allen, o livro mostra como o habilidoso humorista se tornou um dos mais argutos críticos da Era da ansiedade. É um livro de referência sobre um único cineasta, o que não o isenta de defeitos, como os citados acima e a falta de uma filmografia completa. Esta última ajudaria bastante o leitor não-iniciado.