DECEPÇÃO   

 

 

 

Decepção: aquele sentimento, aquela sensação.

      Por ela já passei inúmeras vezes, mas em nenhuma vez o sentimento foi assim: avassalador, complexo, difícil de suportar.

      Oh Clarice! Você era bela como uma rosa, brilhante como o Sol e doce como carinhos pela manhã.

      Lembro-me daquele dia, daquele momento, em que te vi. E lá estava ti, com um vestido bonito, simples, de cor bela. Mais belo, porém, eram teus olhos: encantadores, envolventes.

      E eu, um rapazote de meros quinze anos, conheci o amor. E conheci a decepção.

      Os dias passavam, as horas passavam, os minutos eram ligeiros. Para mim, porém, não eram nada.

      Pois eu, o esquisito, estava apaixonado. Eu era estranho, eu era impopular, era desconhecido.

      Enquanto os outros saíam, se divertiam, bebiam; eu ficava lá. Minha realidade: os livros, o estudo, as matérias.

      Até que te conheci. E, pela primeira vez, o estudo não era importante, eram só palavras, notas. Tu ocupavas minha mente.

      Mas tu não percebias, e se percebias, ignoravas. Teus olhos voltavam-se apenas para garotos, mas eu parecia não estar incluído nessa classificação.

      Me arrumava, me aprontava, me preparava e isso apenas me deixava mais ridículo.

      E assim, o tempo ia passando.

      Passou-se um mês, passaram-se dois, o terceiro chegou ao fim. E com o quarto veio a surpresa, pois o esquisito havia tirado nota baixa.

      O esquisito havia ido mal em uma avaliação. Será que eram motivos de fogos, comemoração?   

      Mas eu nem me importei. Tu eras o importante, o essencial, crucial. O resto? Não era nada, só um capricho da vida, um propósito para que o tempo passasse mais depressa, para que você logo me notasse.

      Mas isso não ocorria. Cada vez mais, tu te voltavas para outros. E isso era difícil, isso era perturbador.

      Eu chorava, sofria, lamentava, resmungava, pois você não me amava. E, durante todo ano, esta foi minha rotina: pensava em ti, chorava por ti e por ti desejava.

      Ah, o desejo! Ele é, com certeza, nossa perdição. Quem ama, deseja e quem deseja, sofre decepção.

      E com ela eu convivi. Me tornei soturno, solitário em nada mais pensava, não mais sorria, vivia, aproveitava.

      Mas quem disse que eu te esqueci?

      Pois digo-te: até hoje lembro e desejo-te. Oh Clarice!Tu não podias me amar?

   por

       Laura Brenha Ribeiro Martins